10.10.17

José Rentes de Carvalho (Violação)





A bofetada como que lhe rebenta a cabeça e sente os olhos desencaixar-se, a quentura do sangue a escorrer do nariz, mas queda-se numa aceitação animal, sem vontade própria, incapaz de raciocínio ou sentimento.

E como em estado segundo, assiste, participa, esquecida de ser, ignorante do que faz, do que vê, a modos de sentir seu o corpo e ao mesmo tempo o negar, sofrer-lhe a dor e sair dele.

Num reflexo tinha fechado as pernas, mas logo as voltara a abrir, obediente quando ele, forçando, lhas pegou às mãos ambas como se a quisesse rachar.

Esperava bruteza e foi o que sofreu: o ventre esgarçado, uma sensação de queimadura, o peso, a asfixia da mão que lhe tapava a boca, a outra a apertar-lhe o pescoço.
Coito selvagem, dor que nunca tinha sentido, nem suportado macho com raiva assim.


J. RENTES DE CARVALHO
O Meças
(2016)

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