19.3.24

Roberto Juarroz (Dar tudo por perdido)




(24)

 

Darlo todo por perdido.
Allí comienza lo abierto.
Entonces cualquier paso
puede ser el primero.
O cualquier gesto logra
sumar todos los gestos.
Darlo todo por perdido
Dejar que se abran solas
las puertas que faltan.
O mejor:
dejar que no se abran.


Roberto Juarroz

 

 

Dar tudo por perdido,
aí começa o caminho.
Qualquer passo então
pode ser o primeiro.
Ou qualquer gesto logra
conter todos os gestos.
Dar tudo por perdido,
deixar abrir sozinhas
as portas necessárias.
Ou melhor,
deixar que não se abram.


(Trad. A.M.)

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18.3.24

Cristina Peri Rossi (Teoria literária)




TEORÍA LITERARIA 

 

Escriben porque tienen el pene corto
o la nariz torcida
Porque un amigo les robó la amante
y otro les ganaba al póker
Escriben porque quieren ser jefes de la tribu
y tener muchas mujeres
un cargo político
un tribunal
Por unas cuantas palabras
una tarima
(muchas mujeres). 

No se leen entre ellos
no se lo toman en serio:
Nadie está dispuesto a morir
colocadas en fila
(de izquierda a derecha,
no al estilo árabe)
ni por unas cuantas mujeres:
después de los cuarenta,
todos son posmodernos.
 

Cristina Peri Rossi 

[Emma Gunst] 

 

Escrevem porque têm o pénis pequeno
ou o nariz torto
Porque um amigo lhes roubou a amante
e outro lhes ganhava ao póquer
Escrevem porque querem ser chefes da tribo
e ter muitas mulheres
um cargo político
um tribunal
Por umas quantas palavras
uma tarimba
(vá, muitas mulheres).

Não se lêem uns aos outros
nem o levam a sério:
Não estão dispostos a morrer
alinhados
(da esquerda para a direita,
não ao estilo árabe)
nem por umas quantas mulheres:
depois dos quarenta,
são todos pós-modernos.


(Trad. A.M.)

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16.3.24

Sebastião da Gama (Cantilena)

 



CANTILENA

 

Cortaram as asas
ao rouxinol
Rouxinol sem asas
não pode voar.

Quebraram-te o bico,
rouxinol!
Rouxinol sem bico
não pode cantar.

Que ao menos a Noite
ninguém, rouxinol!,
ta queira roubar.
Rouxinol sem Noite
não pode viver.

 Sebastião da Gama

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14.3.24

Carlos Martínez Aguirre (O amor é um género literário)




EL AMOR ES UM GÉNERO LITERARIO

 

He pensado escribirte como si no existiera 
aún el feminismo. Como si nuestro tiempo 
no fuera el fin de siglo, ni nadie conociesee
la igualdad de los sexos, ni causara extrañeza 
oír que te dijera que el amor que yo siento 
por ti jamás podrías sentirlo tú por nadie.
Tal vez el amor sea solo literatura
que cambia con el tiempo. Supongo que nosotros
no amamos como Shakespeare, ni Shakespeare como Dante, 
ni Dante como Safo, ni Safo como nadie.
 

Carlos Martínez Aguirre 

 

Pensei em escrever-te como se não existisse
ainda o feminismo. Como se o nosso tempo
não fosse o fim do século, nem ninguém conhecesse
a igualdade dos sexos, nem causasse estranheza
ouvir que te dissesse que o amor que eu sinto
por ti nunca poderias senti-lo tu por ninguém.
Talvez o amor seja apenas literatura
que muda com o tempo. Eu suponho que nós
não amamos como Shakespeare, nem Shakespeare como Dante,
nem Dante como Safo, nem Safo como ninguém.
 

(Trad. J.M.Magalhães)


>>  Clasicas (sitio prof) / Unirioja (8p) / Hector Castilla (11p) / Wikipedia

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13.3.24

Antonio Porchia (Sei que não tens nada)




Sei que não tens nada.
Por isso te peço tudo.
Para que tenhas tudo.


Antonio Porchia


(Trad. A.M.)

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11.3.24

Sebastião Alba (Deixa entrar no poema)



Deixa entrar no poema
alguns clichés.

Submetidos à experiência inefável,
sua carga (eléctrica?)
escoar-se-á. 

Não há uma vala comum para as palavras
decaídas,
um dicionário no inferno; 

mas deixa-as vir à tona
da claridade,
e nada lhes insufles. Vê: 

não suportam a beleza
que as circunda, abismam-se
em seu ridículo.

 

Sebastião Alba

[Antologia do esquecimento]


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9.3.24

César Cantoni (O poeta da revolução)




EL POETA DE LA REVOLUCIÓN 

 

Una vez, siendo joven, 
me propuse pegarme 
un balazo en el pecho.  

Ese tributo a Maiakovski
–yo era, entonces, marxista–
y algunos versos entusiastas que había escrito 
me auguraban, en mi fuero
más íntimo, un sitial memorable.  

No sé si por cobardía o pura comodidad, 
durante un tiempo largo,
esperé que el balazo anhelado me lo pegara otro.  

Al final, la Revolución fracasó,
nadie colaboró dándome muerte
y aquí estoy, poéticamente destronado, 
escribiendo estas líneas. 
 

César Cantoni  

[Otra iglesia] 

 

Uma vez, em jovem,
propus-me pregar
um balázio no peito. 

Esse tributo a Maiakovski
 - eu era marxista, por então -
e alguns versos entusiastas que tinha escrito
auguravam-me, no meu foro
mais íntimo, um cadeiral de respeito.

Não sei se por cobardia ou pura comodidade,
durante largo tempo,
esperei que o almejado tiro mo atirasse outro.

Afinal, a Revolução fracassou,
ninguém ajudou a dar-me morte
e aqui estou eu, poeticamente destronado,
a escrever estas linhas.

(Trad. A.M.)

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